Série Espírito Santo - Parte 2 - A expressão “Cheios do Espírito Santo”

Série Espírito Santo - Parte 2 - A expressão “Cheios do Espírito Santo”
23/09/2021

Na primeira parte destes artigos iniciamos a falar sobre o propósito de Deus relacionado ao Espírito Santo nos escritos lucanos. Hoje daremos prosseguimento sobre o assunto.

Se recebêssemos a pergunta: O que é ser cheio do Espírito Santo? Qual seria nossa resposta? Creio que alguns responderiam que ser cheio do Espírito Santo é manifestar o caráter de Cristo, manifestar o fruto espiritual, coisas concernentes a moral de nosso caráter. Outros, porém, responderiam que ser cheio do Espírito Santo é uma pessoa usada por Deus, que é batizada pelo Espírito Santo, que possui os dons espirituais.

Dentro destas respostas, quem estaria certo?

Podemos responder com toda convicção que ambas as respostas estão certas. Isso porque cada uma das respostas está ligada a uma perspectiva da ação do Espírito Santo na vida dos cristãos. Quando falamos que uma pessoa cheia do Espírito Santo manifestas características relacionadas à moral, estamos analisando essa perspectiva dentro do que Paulo ensinou sobre um cristão nascido de novo. No entanto, vemos que Paulo usa uma única vez a expressão ligada a “ser cheio do Espírito” em Efésios 5.18 onde diz: “Não vos embriagueis com vinho em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito”.

E a conclusão desse enchimento é “Falando entre vós em salmos, e hinos, e cânticos espirituais; cantando e salmodiando ao Senhor no vosso coração; Dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo; Sujeitando-vos uns aos outros no temor de Deus.” Apontando que aquele que é cheio do Espírito é grato, louva e se sujeita ao próximo.
           
Por outro lado, quando analisamos a expressão ligada a “ser cheio do Espírito Santo” pelo evangelista Lucas, que menciona pelo menos nove vezes, veremos que ele nunca usa essa expressão para falar das questões morais de caráter. Sempre quando a expressão é usada em seu evangelho ou em Atos dos Apóstolos, ela sempre está ligada a capacitação para o serviço ou capacitação profética. O teólogo Robert Menzies, vai além quando diz que Lucas tem todo o cuidado para não associar o Espírito diretamente a dimensões mais amplas do sobrenatural, como curas ou expulsão de demônios. Para estas obras extraordinárias ele sempre apontou o poder de Deus como fonte. (Cf. Lc 5.17; 6.19; 8.46)[1]. Fato é que Lucas foi influenciado pela Septuaginta, que era a tradução do Antigo Testamento hebraico e aramaico para o grego.

Quando analisamos a manifestação carismática do Espírito nas escrituras veterotestamentárias, iremos testificar que o Espírito Santo “enchia” as pessoas com o proposito especifico ligado ao serviço ou a manifestações proféticas. No texto de Êxodo veremos as escrituras mencionarem Bezalael e Aoliabe onde o texto diz que: “O Senhor encheu Bezalael com o Espírito de Deus e lhe deu grande sabedoria, habilidade e perícia para trabalhos artísticos de todo tipo. ” Ex 35.31 NVT. Vemos de maneira muito clara que eles foram cheios para serem usados no serviço. Esse é um pequeno exemplo de vários textos que sempre irão mencionar a vinda, o enchimento, a descida do Espirito, com a intenção de apontar para uma capacitação profética.

No antigo testamento sabemos que o Espírito Santo era concedido para três classes de pessoas: Reis, profetas e sacerdotes. Para os reis, os capacitando a governar, para os profetas, os capacitando a profetizar e para os sacerdotes, os capacitando a exercer sua função no tabernáculo.

O propósito do Espírito no Antigo Testamento sempre foi serviço. Lucas foi influenciado por isso para escrever seu evangelho. Aliás, quem introduziu uma nova manifestação da atuação do Espírito Santo na vida das pessoas foi o apóstolo Paulo, trazendo sua bela teologia sobre a manifestação do Espírito na nova vida que nos é concedida na conversão. Agora, ser cheio do Espirito para ser revestido de poder para exercer o serviço a Deus com graça e ousadia sempre esteve entre o conhecimento dos judeus e do povo que vivia na época do Segundo Templo, que é a época conhecida como inter-bíblica, entre o Antigo e o Novo Testamento.

No próximo capítulo falaremos do anseio profético deste povo antes do Novo Testamento e de como isso veio culminar nos textos que Lucas no deixou com suas doutrinas carismáticas.

*Por: Ev. Anderson Fábio - É teólogo, pós graduando em arminianismo pelo Seminário Batista Livre e dirigente da IEADJO São Paulo

 

[1] MENZIES, Robert - Empowered for witness: The Spirit in Luke-Acts / Robert Menzies - London: T&T Clark International, 2004. p. 113

Leia também:
Série Espírito Santo - Parte 01 - Jesus mandou ir ou mandou ficar?
 

Demétrio Daniel dos Santos Ferreira
Obreiro da IEADJO, Locutor na Rádio 107,5 FM. Jornalista - MTB SC 6144 JP

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