França, infanticídio e as Escrituras

França, infanticídio e as Escrituras
17/08/2020

Um dos assuntos mais comentados nas redes sociais dessa semana foi a nova versão da Lei da Bioética da França, votada na madrugada da última terça-feira, dia 11 de agosto de 2020. Um dos trechos mais polêmicos se refere à facilitação do aborto até os nove meses de gestação se a mãe for diagnosticada com “problemas psicossociais” por uma equipe de médicos.

O aborto na França é permitido por lei até a 12ª semana de gestação por qualquer motivo; cerca de 220 mil abortos acontecem durante a gestação no país. A preocupação de vários grupos pró-vida franceses é que o motivo “sofrimento psicossocial” na revisão da lei que ainda irá para votação no Senado, seja um critério subjetivo, não verificável, permitindo um aumento significativo pelo serviço por qualquer causa, banalizando a vida e produzindo por outro lado, feridas emocionais duradouras nas gestantes.

Uma das primeiras ordens de Deus para o primeiro casal no Genesis é: “Frutificai e multiplicai-vos”, porém, como nos lembra Robert Hutchinson: “[...] hoje em dia, para algumas pessoas, filhos são considerados mais uma maldição que uma benção” (HUTCHINSON, 2012). Diferente da sociedade secular que vivem á margem das Escrituras, a Palavra de Deus considera os filhos uma benção e não um fardo.

A nação israelita era a única entre os povos antigos a se oporem firmemente ao infanticídio, entendendo muitas vezes a esterilidade como maldição divina. Além dos moabitas e seu culto ao deus Moloque que envolvia rituais com crianças, os cartagineses, segundo Plutarco[1], praticavam o sacrifício infantil. Os romanos tinham na famosa Lei das Doze Tábuas, precedente para assassinar filhos que nascessem com deformações. Tácito[2] também critica os judeus por se contraporem terminantemente a essa pratica pagã.

Os profetas hebreus, Jeremias (Jr 32.35) e Ezequiel (Ez 16.21), denunciaram veementemente esses atos, absorvidos aos poucos pelos israelitas, de seus vizinhos pagãos cananeus:
 
“De fato o pecado do sacrifício infantil é entendido na Bíblia como um dos principais motivos por que o reino setentrional de Israel foi destruído pelos assírios na década de 750 a.C. [...] 2 Reis 17:17-18” (HUTCHINSON, 2012).
 
Desde a tradição judaica, passando por Martinho Lutero, o cristianismo sempre foi um defensor da vida, considerando-a um milagre divino. Mas essa ideia cristã tem sido fortemente atacada desde o início do século XX tendo como sofismas o “planejamento familiar” e os “direitos reprodutivos da mulher” alardeado como uma conquista pelo movimento feminista em suas várias frentes e vertentes.

O salmo 139 deixa implícito que a vida inicia na concepção, sendo esta uma obra direta das mãos de Deus. O pastor Renato Vargens lembra que à luz da ciência e da Bíblia [...] toda a informação genética da criança já foi recebida no momento da concepção. "Os filósofos e os teólogos continuarão a debater a cerca de qual o momento preciso em que a alma se une ao corpo humano. Nesse ínterim, tanto as evidencias bíblicas quanto as científicas apontam para o inicio de uma natureza humana única no momento da fertilização (concepção)" (GEISLER, 2010).

O aborto no Brasil não é qualificado como crime somente em três situações: quando a gravidez representa risco de vida para a gestante; quando a gravidez é o resultado de um estupro e quando o feto for anencefálico, ou seja, não possuir cérebro.

A palavra hebraica ratsach no sexto mandamento significa mais precisamente "não assassinarás". Ou seja, matar alguém maliciosamente, premeditadamente. No árabe, uma língua semítica cognata, aparece o verbo radaha "quebrar em pedaços, estilhaçar" guardando uma semelhança gritante com os métodos pré e pós-abortivos usados em clínicas.

Somos criados a imagem e semelhança de Deus. A vida é um dom divino e ninguém tem o direito de tirá-la a não ser Deus, o nosso Criador. "Nu sai do ventre de minha mãe e nu voltarei para lá. O Senhor deu e o Senhor tirou; bendito seja o nome do Senhor" (Jó 1.21).
 
Referências
GEISLER, Norman. Teologia Sistemática, Volume I e II - Rio de Janeiro: CPAD, 2010.
HUTCHINSON, Robert J. Uma história politicamente incorreta da Bíblia – Rio de Janeiro: Agir, 2012.
http://renatovargens.blogspot.com/2020/08/aborto-o-nome-moderno-para-o-s...
 
Sobre a votação na Franca:
https://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/afinal-a-franca-aprovou...
https://pleno.news/mundo/politica-internacional/camara-da-franca-aprova-...
 
Sobre os casos previstos em lei no Brasil:
https://examedaoab.jusbrasil.com.br/artigos/414535657/aborto-o-que-diz-a...
 
Sobre a milionária indústria do aborto:
https://www.gazetadopovo.com.br/caderno-g/sobre-a-industria-do-aborto-no...
https://www.tribunadiaria.com.br/noticia/813/um-reves-para-a-industria-d...
https://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil/quarto-video-derruba-...
 
Mario Gonçalves
Presbítero da IEADJO
Professor da EBD e CCOM
Licenciado em História e graduando em Administração pela UFSC
 

 
[1] Ensaísta, filósofo, historiador grego (46 d.C a 120 d.C.)
[2] Historiador, orador e político romano (56 d.C. a 120 d.C)

 

Demétrio Daniel dos Santos Ferreira
Obreiro da IEADJO, Locutor na Rádio 107,5 FM. Jornalista - MTB SC 6144 JP

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