O Ser, o Sofrimento e o Pecado sob a perspectiva da Diaconia

O Ser, o Sofrimento e o Pecado sob a perspectiva da Diaconia
07/06/2013

O SER, O SOFRIMENTO E O PECADO SOB A PERSPECTIVA DA DIACONIA
 
 “Senhor, não tenho ninguém [...].” Jo 5.7
 
“O pecado é a única doutrina cristã importante que pode ser confirmada empiricamente.” (G. K. Chesterton)
 
1. O pecado que causa sofrimento
 
           Na concepção de Tillich, pecado pode ser entendido como alienação (separação) de Deus, do outro e de si mesmo.[1] Certamente sob o ponto de vista da diaconia, este é o termo mais adequado, pois ao separar-se de si mesmo o indivíduo perde a essência do ser, ferindo a si mesmo, e ao separar-se também do outro, deixa de lhe ser ajudador/auxiliador (Gn 2.18) e lhe fere. Este ferimento se torna maior quando deliberadamente faz uso do mal para causar maior dor, ferindo assim profundamente aquele do qual já está alienado, fisicamente presente ou não.
 
           Embora Tillich afirme que alienação e pecado não é a mesma coisa, no entanto afirma que pecado é a responsabilidade pessoal na alienação. Assim tem-se um destino universal e uma questão de liberdade pessoal, respectivamente.[2] Neste sentido cabe ao ser humano voltar-se para o fundamento do seu ser para deixar de estar alienado. Voltar ao fundamento significa amar e amar implica em cuidados.
O amor, como tendência para reunir aquilo que está separado, é o contrário da alienação. Na fé e no amor, o pecado é vencido, porque a alienação é superada pela reunião.[3]
           Tanto o pecado individual e a injustiça social coletiva são geradores de sofrimento. Têm-se alguns extremos neste sentido, como o pentecostalismo cuja ênfase recai quase exclusivamente sobre o indivíduo: converte-se o indivíduo e muda-se a sociedade; outro extremo é a TdL e algumas vertentes da TMI que coletivizam o pecado sem muita ênfase para a necessidade da conversão individual. Para o equilíbrio é necessário que o ser humano esteja reunido (não alienado) a si mesmo e ao outro.
 
           A alienação produz os pecados que nominamos das mais variadas formas e que se transformam em violência e opressão contra o outro: o pobre[4], a mulher, a criança, o idoso, o incapaz, o doente, o fraco, mas também contra o igual. (vídeo: Titãs, Pelo avesso)
 
2. O pecado do agente diaconal
 
           Mas também o próprio agente diaconal pode ser causador de sofrimento. Segundo Henri Nouwen[5], são três os fatores que contribuem para isto:
a) concretismo – quando o suprimento das necessidades parte do olhar do servidor sob idéias preconcebidas de como as coisas deveriam ser, mas isto pode os deixar “cegos para o que o povo realmente precisa e surdos ao que eles estão falando.”[6]
b) poder – tem-se a falsa idéia de que se explicar as pessoas o que faz sentido para nós deverá fazer para elas também, ou ainda, esperar agradecimento, assim as pessoas admitem que por um tempo se tornaram dependentes de ajuda. Ninguém gosta de ser considerado necessitado ou incapaz, o que por si reivindica uma expressão de agradecimento por parte do cuidador.
c) orgulho – o perigo que correm os que querem ajudar, de se colocarem acima dos necessitados. Motivar outras pessoas a ajudar através do sentimento de culpa (ao invés de compaixão) gerado com imagens agressivas.
[A] vulnerabilidade sempre parece despertar os instintos assassinos de alguns indivíduos, que usam seus papéis [...] como um cobertura para se entregarem a um ou vários pecados mortais.[7]
Aquilo [...] que com muita facilidade chamamos de cuidado não é cuidado. É dó, é sentimentalismo, são boas obras, é colonialismo eclesiástico, é imperialismo religioso.[8]
Boa parte do cuidado é simplesmente colaboração com o egoísmo, com a autocomiseração, com a autodestruição, com a autogratificação.[9]
 
3. O pecado do oprimido
 
O círculo vicioso de opressão à sofrimento à pecado. Em alguns casos aprende-se a usar da necessidade para se colocar no centro das atenções.
Usam-se as aberturas geradas pelas necessidades não para sair da situação, mas para puxar quem quer que esteja tentando ajudá-lo para servi-lo mais ainda, usando assim o próximo. Se estiver desprevenida, a pessoa que oferece cuidado é cooptada para alimentar o egoísmo, o que significa dizer o pecado.[10]
 
4. Quem é o pecador/opressor?
 
5. Atitudes a serem tomadas para vencer a alienação (lista não exaustiva)
 

  • A cruz é a perspectiva como uma constante inversão de valores vigentes na sociedade;
  • A lógica da cruz é a opção em favor daquilo que é fraco, pequeno e rejeitado;

“Precisamos desafiar toda interpretação teológica que não leve seriamente em conta o sofrimento no mundo – um mundo afligido pela pobreza, violência e [doenças]. Somos forjados pela Teologia da Cruz, que nos impulsiona a nos identificar mais com os que sofrem do que com os bem-sucedidos. A Teologia da Cruz chama as coisas pelo que elas realmente são, rompendo a polidez e o fingimento, quebrando o silêncio e correndo riscos ao falar a verdade ao poder, mesmo quando isso ameaça a ordem estabelecida e resulta em privação ou perseguição. Isto está no cerne do chamado profético diaconal.”[11]

  • “No seio da comunidade cada um se faz samaritano do outro.” (Leonardo Boff)
  • Não fazer proselitismo com a diaconia, ou estende-la apenas aos ‘irmãos’;
  • Propagação do evangelho integral que alcança o ser humano de forma integral (Jo 10.10), eliminar a preocupação somente com a “alma”;
  • Adotar o modelo não alienante de Jesus:

a) Ele valorizava as pessoas e respeitava seus anseios: “que queres que te faça?”. (Lc 18.41);

  1. Respeitava a individualidade sem expor ao ridículo o assistido (Mc 8.22-26)
  2. Ele se compadecia e acolhia a pessoa por inteiro (Mt 9.35ss)
  3. Lutava de forma veemente para não criar vínculos de dependência (Jo 6.26,66)
  4. Discordava dos valores e da cultura da época e acolhia: samaritanos, mulheres, crianças, publicanos, pecadores, etc.
  5. Desafia a seguir seu exemplo (Jo 13.15);

 

[1] TILLICH, Paul. Teologia Sistemática. São Leopoldo: Sinodal, 2005. p. 339.

[2] TILLICH, 2005, p. 341.

[3] TILLICH, 2005, p. 341.

[4] “Ser pobre é consumir toda energia disponível para sobreviver na luta contra a morte e sobreviver por um triz.” (Abranches)

[5] NOUWEN, Henri. Ministério criativo. Brasília: Palavra, 2008. p. 91-95.

[6] NOUWEN, 2008, p. 91.

[7] PETERSON, Eugene. Espiritualidade subversiva. São Paulo: Mundo Cristão, 2009. p. 188.

[8] PETERSON, 2009, p. 191.

[9] PETERSON, 2009, p. 194.

[10] PETERSON, 2009, p. 192.

[11] Federação Luterana Mundial. Uma epístola sobre Diaconia. Disponível em: <http://www.fld.com.br/textos.asp?cod=2>. Acessado em 24 nov. 2004. 

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