Em sua segunda carta a Timóteo Paulo escreve: “Conjuro-te, pois, diante de Deus e de Cristo Jesus, que há de julgar os vivos e os mortos, na sua vinda e no seu reino; prega a palavra, insta a tempo e fora de tempo, admoesta, repreende, exorta, com toda a longanimidade e ensino” (2 Tm 4.1-2).
A pregação em nossos dias passa por forte turbulência. Apesar de reconhecermos a existência de homens de Deus, sérios, responsáveis e comprometidos com o peso do ministério da pregação e com a fidelidade à palavra de Deus, não podemos deixar de denunciar a presença de pregadores que não amam a bíblia, são descomprometidos com a vocação divina e preguiçosos para o estudo da palavra de Deus.
No texto em apreço Paulo nos deixa o forte legado dos imperativos para o ministério da pregação.
Suas primeiras palavras nos põem face a face com o fato de que um dia enfrentaremos o juízo do rei que retorna para pedir prestação de contas (v.1). No caso de Paulo e Timóteo há ainda mais intensidade em sua expectativa do julgamento de Cristo. Várias passagens do Novo Testamento deixam claro que a igreja primitiva cria que a maioria dos cristãos sobreviveria até o segundo advento de Cristo (1Co 15.51; 1Ts 4.15). Logo, percebe-se que o contexto do primeiro apelo é carregado de uma perspectiva escatológica. Paulo espera que Timóteo seja alguém que viva a vida diante de Deus e de Cristo Jesus, perante quem é responsável, e tendo em mente a certeza das realidades escatológicas cristãs. Conscientes de que seremos julgados perante o tribunal de Cristo (2 Co 5.10) devemos nos dedicar com máximo esmero à preparação e à entrega de nossos sermões. Ha se alguns dos nossos pregadores se dessem conta de que Deus está assistindo a cada apresentação, cada showzinho que promovem sobre os púlpitos de nossos templos. Sim. Cristo voltará! Seu aparecimento, juízo e reino devem ser para todos nós, ministros do evangelho, uma influência tão poderosa quanto foi para Paulo e Timóteo. Todos haveremos de comparecer diante de Cristo para dar contas quanto ao desempenho de nosso ofício ministerial.
Em seguida Paulo expressa uma das mais conhecidas frases da bíblia: “prega a palavra” (v.2). A ordem dada é pregar. Não apenas ler, estudar, meditar ou admirar a palavra, o pregador tem de proclamar. Não discutir. O pregador é um “arauto”. Sua missão é proclamar, pregá-la a outros. O próprio apóstolo declarou duas vezes que foi “designado pregador” (1 Tm 2.7; 2 Tm 1.11). O pregador não precisa provar a existência de Deus ou lutar em grandes debates intelectuais. Ao arauto cabem apenas as tarefas de proclamar e apelar. Proclama fiel e detalhadamente “o ato redentor de Deus na cruz de Cristo” e, em seguida, faz um “apelo intenso e sincero aos homens para que se arrependam e creiam”. O conteúdo do Kērigma apostólico era a palavra de Deus, ou seja, a palavra já proferida por Deus no Velho Testamento. Palavras essas que Timóteo aprendera desde sua infância, por tanto, conhece bem (vv. 3, 4 e 7). Para Timóteo a palavra era ainda o mesmo que o “depósito” do primeiro capítulo. Para os nossos pregadores deve ser exatamente a mesma coisa, ao invés de mensagens de auto-ajuda, filosofias modernas ou historinhas cômicas extraídas de charges e histórias em quadrinho. Prega a palavra é ordem bíblica que vigora ainda em nossos dias.
Nossa época é peculiar em seu conceito sobre administração de tempo. Somos orientados a ter um tempo exato para cada atividade que temos a desempenhar. Para Paulo não pode haver negligência, Timóteo deve pregar a tempo e fora de tempo (v.2). Não se trata de
um convite à grosseria, falta de tato e inconveniência, é um apelo à urgência. A pregação é urgente, Timóteo deve insistir nela. Pregadores devem apegar-se a tarefa da pregação e permanecer nela. Nós, pregadores, devemos agarrar-nos à nossa vocação e pregarmos insistentemente, venha a mensagem que estamos proclamando em hora boa ou não para os ouvintes. O que devemos fazer é pregar possuídos do senso de urgência, sabendo que a igreja não pode deixar de lado sua vocação profética.
O sábio conselheiro prossegue usando três verbos que absorveriam toda a vida de Timóteo. “Admoesta, repreende e exorta” (v.2). Eis os aspectos do ofício do pregador. O pregador deve admoestar, ou seja, repreender os errantes (2 Tm 3.16; Tt 1.13, 2.15); deve ainda repreender, isto é, advertir os que não atentam para a correção censurando-os quando necessário; e finalmente, o pregador deve exortar, ou seja, incentivar, encorajar a todos os crentes. Quanto de tudo isso temos recebido de nossos púlpitos?
A pregação deve ter este tom quase voraz, admoestando, repreendendo e exortando. Entre tanto, o pregador deve ser homem longânimo. Timóteo deve cumprir as três tarefas com toda a longanimidade. Seja qual for a abordagem que está empregando o pregador nunca deve perder a paciência com as pessoas (2.25; 3.10; 1 Tm 1.16), esperando que Deus, a seu tempo, opere a transformação desejada. Makrotumia, paciência divina, ânimo longo, característica marcante do pregador cristão. Sem ela o pregador se desespera, torna-se arrogante, manipulador e irritante.
Além da longanimidade o apóstolo fala do “ensino”. Não devemos apenas pregar a palavra, devemos ensiná-la. Em outras palavras Paulo diria: prega e põe ensino na tua pregação. Como pregador, mostra-te um ensinador profundo nas escrituras, sadio na verdade cristã e cheio de recursos. Ortodoxia na fé e aptidão para o ensino são requisitos indispensáveis ao ministro cristão. Kērigma sem didachē, proclamação sem doutrina, pregação sem ensino, gritos sem
conteúdo. Essa mensagem não transforma vidas, não edifica a igreja e empobrece o ministério da pregação.Este é o dever de que somos encarregados. Conscientes de que haveremos de prestar contas diante do juiz dos vivos e dos mortos, que preguemos a palavra, e o façamos com um sentido de urgência. Que nosso conteúdo seja aplicável, carregado de admoestação, repreensão e exortação. Que sejamos pacientes, longânimos e esperançosos. Que haja ensino em nossa pregação.
07/06/2013
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