O que você faria se descobrisse que seu filho (a), neto (a) ou sobrinho
(a), estivesse aprendendo na escola que menino não nasce menino e menina
não nasce menina? E se eles estiverem sendo ensinados a considerar a
sexualidade como uma mera opção – uma escolha. E se os tentassem
convencer de que não existem apenas dois gêneros (masculino e feminino),
mas uma diversidade inimaginável de gêneros sexuais, possíveis de serem
assumidos. O que você faria? Bem, é disto que este texto trata: de um projeto
ideológico e espiritual que busca desconstruir aquilo que nos parece óbvio –
Homem nasce Homem e Mulher nasce Mulher.
É certo que para nós cristãos bastaria dizer que Deus criou Homem e
Mulher, e que essa condição é marcada pelo sexo de nascimento. Não
obstante, há àqueles que se julgam detentores de uma nova verdade, dizendo
que cada um pode constituir sua própria identidade sexual. Para justificar essa
condição, criaram o conceito de “gênero sexual”, o qual, tendo inicialmente sido
considerado como sinônimo de sexo (somatório de características biológicas e
fisiológicas que definem homem e mulher) passou a ser definido como papéis
sociais e comportamentais. Nessa perspectiva, considera-se a possibilidade de
que alguém tenha nascido com o sexo masculino, mas escolha a identidade de
gênero feminino, por exemplo.
Esta forma de pensar a sexualidade humana seria apenas mais uma
dentre tantas ideologias que permeiam o ideário pós-moderno, se não se auto
proclama-se uma verdade a ser ensinada nas escolas. A tentativa de levar a
“Ideologia de Gênero” aos bancos escolares, de modo Oficial, se deu através
da proposta de sua inserção nos Planos de Educação (decenais) –
documentos que estabeleceram metas para a Educação nos sistemas de
ensino Municipal, Estadual e Federal. Por meio dos Planos de Educação (ainda
em votação em algumas cidades) a Ideologia de Gênero procurou garantias de
fazer-se reconhecer legítima, podendo ser então assumida e livremente
desenvolvida no privilegiado espaço escolar.
Contudo, a proposta de inserção foi rejeitada na maior parte das cidades
e em quase todos os Estados, tendo sido previamente rejeitada no Congresso
Nacional (BRASIL, Lei nº 13.005 de 25 de Junho de 2014). Esse resultado
deve-se em parte ao envolvimento das lideranças políticas e eclesiais cristãs,
que diretamente ou indiretamente participaram das discussões e votações.
Seria importante salientar que a aprovação da Ideologia de Gênero em alguns
Planos de Educação deu-se mais por razões de inobservância, já que muitos
legisladores desconsideraram a pluralidade de sentidos da palavra “gênero”.
Diante do que poderia ser considerada uma grande vitória, é
reconhecido o esforço para mantê-la no cenário público e educacional.
Ancorada politicamente, economicamente e intelectualmente, em poderosos
suportes internacionais (universidades, grandes empresas, figuras públicas
mundiais, redes de comunicação, órgãos governamentais, etc.) a Ideologia de
Gênero, que antes subsistia de modo subliminar, pode ser hoje explicitamente
observada – quase sempre associada ao contexto infanto-juvenil.
Documentários que mostram crianças sendo educadas em “gênero neutro”;
filmes e novelas onde os pais incentivam os filhos a optarem livremente por
uma “identidade sexual”; desenhos infantis que ensinam que não há qualquer
diferença entre meninos e meninas, entre as roupas próprias de um e de outro,
entre seus brinquedos e suas brincadeiras; livros didáticos, ainda que de modo
arbitrário, que apresentam um quadro de diversidade sexual e um precoce (e
infundado) direito de escolha: por todos esses exemplos parece ser clara a
presença de um movimento organizado disposto a desconstruir não apenas
aquilo que julgamos bíblico – que Homem nasce Homem e Mulher nasce
Mulher, mas que é também histórico, lógico, moral, biológico, ou mesmo
científico:
Histórico por que não há precedentes civilizatórios que demonstrem a
sustentabilidade histórica de uma sociedade sexualmente plural. Lógico pela
via dos fatos, já que uma cultura heteronormativa é fundamental e
imprescindível a perpetuação da espécie humana. Moral por que se constitui,
quer no contexto da ética clássica como nos mais antigos códigos de leis, uma
premissa de valor essencial a estrutura social e familiar. Os valores referentes
à cultura heteronormativa não podem ser alterados sem considerar-se a
imersão em um caminho distintamente novo, uma realidade perigosa e sem
precedentes. Esta é uma atitude que não pode ser tomada em caráter
emergencial, intimidatório, pessoal ou intuitivo. Biológico pela bipolaridade
sexual manifesta na estrutura corporal (física, emocional, psicológica) e na
genética humana, considerando os diferentes pares cromossômicos (XY e XX)
que definem a natureza sexual de homens e mulheres. Científico por que
depreendesse da ciência a responsabilidade de uma análise sistemática e
referencial. A Ideologia de Gênero, desenvolvida no subjetivo campo das
Ciências Humanas, não pode assumir-se como conhecimento científico
curricularmente proposto sem ter sido criticamente analisado. As prerrogativas
de análise, marcada nas grandes áreas do conhecimento humano – “Teológico,
Filosófico, Empírico e Científico”– não devem ser desconsideradas. Do mesmo
modo, é imprescindível considerar seus aspectos simbólico, ético e, sobretudo,
axiológico. Assumir um conhecimento sem considerar suas facetas,
prerrogativas, possibilidades práticas, subjetivas e constitutivas, deixar de
analisar seus desencadeamentos, desconsiderar aspectos sociais – presentes
e futuros, isso é uma irresponsabilidade científica.
Teologicamente, ao refletirmos sobre a Ideologia de Gênero não
estamos apenas versando sobre um fato isolado no contexto político
educacional, mas observando uma manobra espiritual em curso: A tentativa de
desconstruir um dos pilares essenciais da família bíblica e tradicional – isto é, o
reconhecimento de que Deus criou Homem e Mulher, constituindo-os a base
fundamental das famílias humanas. Esta perspectiva, não apenas afronta o
projeto criador (Gn 1,27), mas põe em risco a perpetuação, natureza e
estrutura (social, emocional, moral, espiritual, psicológica, etc.) da Família.
Marcada pelo propósito divino, a Família, assim como a Igreja, sofrem a
mesma oposição satânica. Historicamente, a própria família adâmica padeceu
com o embate diabólico; sofrendo baixas. Hoje, a ilusão da pacificidade, como
se os inimigos de Deus houvessem desistido, parece ser o engodo perfeito
para um caminho de derrota; motivo pelo qual permanecemos vigilantes – “não
ignorando os desígnios de Satanás” (2 Cor. 2.11).
De nossa parte, penso que devemos considerar a responsabilidade que
nos cerca. O futuro da família - e consequentemente o da Igreja, sofre
ameaçado. Reconhecendo que “as armas da nossa milícia não são carnais,
mas sim poderosas em Deus” (2 Cor 10.4-5), somos convidados a defender a
Família. Esta luta não é contra pessoas – sabemos, mas contra as esferas
espirituais (Ef. 6.12). Uma tomada de posição é necessária: Homem e Mulher
não podem ser tratados como meros conceitos ideológicos. Deus os criou...
“Macho e Fêmea os criou”.
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